Vânia Euzébio, psicanalista clínica, afirma que sobrecarga sem apoio emocional tem levado mulheres ao burnout e defende tratamento que vá além da dor, com foco na cura e reprogramação emocional

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Cansaço, sensação de impotência, culpa constante e a impressão de que, por mais que se faça, nunca é suficiente. Segundo Vânia Euzébio, psicanalista clínica e terapeuta comportamental, essa é a realidade silenciosa de muitas mulheres, sobretudo aquelas que tentam conciliar múltiplas funções sem apoio emocional, familiar ou social.

 

Para Vânia, é essencial a prática da abordagem terapêutica que vá além da identificação do problema e envolva a cura emocional e a reprogramação comportamental.

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O peso da culpa e a anulação do autocuidado

De acordo com a terapeuta, a sobrecarga emocional enfrentada por muitas mulheres está ligada à ausência da rede de apoio e à pressão interna de ser sempre suficiente para todos. “Elas se sentem cansadas, sobrecarregadas e culpadas por não dar conta de tudo. Isso gera um sentimento de incapacidade que leva ao esforço excessivo para não fracassar. E, nesse processo, o autocuidado, o lazer e o tempo de solitude são anulados”, afirma.

 

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Essa anulação progressiva do próprio bem-estar tem efeitos graves. O corpo e a mente entram em colapso, o que abre espaço para doenças emocionais como estresse crônico, síndrome de burnout, ansiedade e depressão.

 

Frases como “eu não aguento mais” e “sinto que não saio do lugar” são comuns nos atendimentos da psicanalista. Para ela, esses sinais são típicos da baixa autoestima – sentimento que pode ter sido estruturado a partir da infância. “Todas as vezes que uma mulher sente que não é capaz, que duvida do seu valor, há uma raiz emocional por trás disso, e, muitas vezes, essa raiz está na infância. Trabalhar essa origem é o ponto de partida. Não basta entender a dor; é preciso tratá-la”, reforça.

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Cura emocional e aceitação

A profissional é enfática ao diferenciar o que chama de ‘aceitação da dor’ do processo real de cura. “Eu não trabalho com a aceitação da dor, e sim com a cura. Alguns métodos param na informação: identificam o problema, mas não avançam para a transformação. Isso pode gerar ainda mais sofrimento, principalmente se o paciente estiver fragilizado”, explica.

 

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Para ela, o verdadeiro tratamento começa quando se inicia a reprogramação do cérebro, com a mudança de padrões e comportamentos enraizados na dor.

Parte fundamental desse processo é o autoconhecimento. Vânia afirma que a partir do momento em que o paciente compreende seu temperamento, seus traumas e padrões, o inconsciente se torna receptivo ao processo de cura.

 

Mas a sua abordagem vai além das paredes do consultório: ela também prioriza o acompanhamento em momentos de crise, cuidado que considera essencial para acelerar resultados. “Eu trabalho com pessoas em crise, e estar acessível nesses momentos é decisivo. Durante as crises, testamos exercícios terapêuticos específicos para descobrir o que funciona para aquela pessoa. É uma forma prática de cuidar da urgência emocional enquanto tratamos as raízes profundas.”

 

O final da linha é claro para Vânia: é possível sair desse ciclo de dor, exaustão e culpa, mas é preciso coragem para buscar ajuda, e um olhar terapêutico que vá além da superfície. “A dor emocional não pode ser normalizada ou ignorada. Quando tratada com responsabilidade e profundidade, ela se transforma em força, clareza e liberdade”, finaliza.