O jogador português Diogo Jota faleceu nesta quinta-feira, 3, ao lado do irmão, o também craque André Silva, na cidade de Zamora, no norte da Espanha. Os dois sofreram um acidente de carro na rodovia A-52, quando tentaram ultrapassar um veículo. O pneu do automóvel estourou, fazendo com que eles fossem arremessados para fora da pista. O carro pegou fogo, matando os dois no local. Diogo deixa três filhos pequenos – dois meninos e uma menina bebê – e uma esposa com quem casou no dia 22 de junho.
Em conversa com o Portal Márcia Piovesan, o psicólogo clínico Luti Christóforo explicou como a perda precoce pode afetar o desenvolvimento da família, principalmente o crescimento dos filhos tão pequenos.
Como ficarão as crianças?
Segundo o profissional, os herdeiros tendem a apresentar diversos efeitos psicológicos negativos pela perda do pai. “As crianças, que já conviviam com uma figura paterna presente, podem enfrentar sentimentos profundos de insegurança, medo e abandono, mesmo sem compreender totalmente o que ocorreu. A ausência repentina destrói o sentido de continuidade e proteção, interferindo no desenvolvimento emocional, nos vínculos afetivos e na construção da identidade”, disse.
Além dos fatores emocionais, a perda paternal também pode causar efeitos físicos que, mais tarde, prejudicial a saúde mental do menor: “A rotina escolar, as relações sociais e os padrões de sono e alimentação frequentemente se alteram. Há crianças que internalizam a dor tornando-se mais introspectivas, outras podem externalizar com explosões de irritabilidade ou ansiedade. Seja qual for o comportamento, ele é uma forma de manifestação do luto e não deve ser silenciado ou ignorado”.
Como cuidar da criança
Luti indica que o responsável legal pelos pequenos se atente aos sinais que eles podem dar ao longo do crescimento: “Para ajudar essas crianças a atravessar esse momento, é fundamental preservar rituais e rotinas como ponto de estabilidade, favorecer o contato afetivo com outros adultos de confiança, oferecer espaço seguro para expressarem suas emoções e indicar apoio psicológico especializado quando houver sinais de luto complicado, como isolamento prolongado, sintomas depressivos acentuados ou desregulações comportamentais”.
E a esposa?
Rute Cardoso se casou com Diogo no dia 22 de junho, ou seja, 11 dias antes da morte. O psicólogo explica que a proximidade com o evento dificulta ainda mais o luto: “Logo após um grande marco de união como o casamento, pode gerar um choque emocional extraordinário. A esposa não apenas perde o marido, mas também uma vida que recém começava, cheia de sonhos, planos e identidade conjugal. O casamento estabelece expectativas com futuro, e a morte que se segue gera um abismo emocional que atravessa o luto comum, agregando dimensões traumáticas”.
No começo, pode ser que Rute se sinta injustiçada distante da tragédia: “Nessa situação, é comum surgirem formas intensas de sofrimento, como incredulidade e sensação de injustiça diante de uma perda inesperada, culpa contraproducente por não ter feito mais, raiva e questionamento existencial sobre o sentido da vida e do amor, além de uma desorganização emocional profunda diante da ruptura brusca de planos e vínculos”.
E isso, eventualmente, pode gerar transtornos severos: “O choque inicial pode evoluir para quadros de depressão, sequelas ansiosas e trauma, especialmente se a morte for violenta ou repentina. Por isso, para essa mulher, é essencial receber uma rede de proteção imediata, apoio psicológico contínuo e ter seu tempo de dor respeitado, pois a reconstrução emocional não segue prazos. A dor, por mais avassaladora que seja, pode, com apoio e tempo, ser acolhida de forma significativa, transformando o vínculo perdido em fonte de memória afetiva e força para um novo ciclo”.
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