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Izabella Camargo fala sobre a Síndrome de Burnout: ‘Vivi na pele’

Jornalista Izabella Camargo fala da trajetória na carreira jornalística, revela desafios e conta detalhes do diagnóstico de Burnout

Izabella Camargo
Izabella Camargo. Reprodução/ Instagram

A jornalista Izabella Camargo, que possui uma carreira brilhante, fez sucesso na previsão do tempo e no comando de jornalísticos da Globo, em diferentes horários. Até que um dia, em 2018, ela foi diagnosticada com Síndrome de Burnout, também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, e precisou fazer mudanças em sua rotina.

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Em entrevista exclusiva ao Portal Márcia Piovesan, Izabella bateu um papo com a jornalista Cléo Francisco e abriu o coração sobre a doença, além de comentar sobre o currículo extenso na área do Jornalismo e os seus novos desafios profissionais para 2023.

Ministrando palestras por todo o Brasil sobre o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal, o que ela chama de produtividade sustentável, Izabella lançará no segundo semestre do ano, um outro livro que abordará justamente esse assunto tão em alta na rotina de muita gente.

Mãe de Angelina, de 1 ano e sete meses, fruto da união com o mestre de educação financeira Thiago Godoy, ela considera a filha como “a maior resposta do porquê está aqui”.

Portal Márcia Piovesan – Sua voz chama a atenção. Qual o peso dela na sua carreira?
Izabella Camargo – É bem importante. Estava no Fantasia (antigo programa do SBT, no final dos anos 90) e o Arnaldo Saccomani (compositor e produtor musical) fez seleção de possíveis cantoras para um CD. Escolhi a música Bem Que se Quis, com Marisa Monte, que bombava nas rádios, e fui. Depois, ele me chamou e disse: ‘Procura um curso de voz porque a sua passa muita credibilidade’. Tinha 16 anos e no dia seguinte estava no Senac Scipião, na Lapa, fazendo curso de locução. Ainda trabalhava no Fantasia quando fui para a rádio Energia 97, fazer o programa Na Balada. Um ano depois, o Emílio Surita me liga dizendo que estava me ouvindo e queria me convidar para a Jovem Pan. Na hora, achei que era pegadinha do Pânico. Foi assim comecei a trabalhar lá.

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Portal Márcia Piovesan: E como enveredou para o jornalismo?
Izabella Camargo – Fiz faculdade, fui para a Band e ali tive a clareza, consciência do quanto a minha dicção seria importante e me matriculei em muitos cursos. Lá era voz padrão, repórter, apresentadora, substituía o (Ricardo) Boechat, o Boris (Casoy). Depois, da Band você foi para a Globo. Eu poderia não saber muito sobre mim, mas a minha voz eu tinha certeza de que era a única coisa que não era ruim. Só que na minha primeira semana na Globo, tive um feedback atravessado. A chefe do jornal disse: ‘Sua voz é horrível’. Então, fui para o banheiro. Aquilo foi bem ruim. Como saio de um lugar onde minha principal característica era valorizada para outro onde não era? Quando a gente não sabe quem é, fica mais fácil de se perder. Precisamos ter clareza sobre nossos pontos fracos e fortes e não nos perder  Chorei muito no banheiro, vomitei. Depois, voltei e perguntei: ‘Como você quer que eu faça?’. Hoje vejo que muitas empresas perdem grandes talentos. Técnica todos podem ter, mas caráter não se treina. Todo atleta treina, mas os campeões são os que administram emoções e comportamentos diante das situações estressantes. Tudo o que vivi na minha trajetória aplico, hoje, nesse trabalho com lideranças.

Portal Márcia Piovesan: As mulheres, em geral, costumam ser as mais sobrecarregadas, não é?
Izabella Camargo – Sim e de todas as classes sociais. Em toda minha apresentação digo: ‘Vocês me conhecem como jornalista mas, na prática, sou faxineira.’ Sim, de crenças, ideias e movimentos que não nos levam mais a lugar nenhum.

Portal Márcia Piovesan: Quando começou seu envolvimento com a questão da saúde mental nas empresas?
Izabella Camargo – Em 2018, entrevistando as pessoas para o meu livro e ainda trabalhando para a Globo. Estudei formas de fazer as pazes com o tempo. Fazia a previsão e ouvia reclamações do tempo que passava muito rápido. As pessoas estavam estressadas como eu e empreendi uma jornada profunda sobre as percepções do tempo, incluindo o burnout. Entrevistei 150 pessoas que admiramos para entender o que acontecia. E também físicos, astrônomos, para saber: será que a terra está mais rápida? O tempo da natureza é igual, nós é que estamos passando mais rápido por ele. É questão de comportamento. Me aprofundei com os principais especialistas, escritores, artistas e chego no Nelson Motta. É ele que me ensina coisas incríveis sobre a responsabilidade com nossa agenda, a importância de dizer não, ter tempo para si. Falamos da letra de música que ele criou. O Nelson contou que ele tinha oferecido Bem Que Se Quis para uma cantora, que não quis, e a Marisa Monte gravou. Me emocionei por que, no fim do século passado, a música dele chegou às paradas de sucesso e eu a cantei para o Saccomani. Temos que prestar atenção a tudo que nos falam, para o bem e o mal.

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Portal Márcia Piovesan: Como reagiu ao diagnóstico de burnout?
Izabella Camargo – Quando fui afastada por causa do burnout, pensei: ‘Estou vivendo o que estudei há pouco. Fiz as pesquisas para o livro em 2017, antes do diagnóstico. Havia levado o livro para três editoras, que não o quiseram. E estava vivendo aquilo. Mas o Mauro Palermo, diretor da Globo Livros, entendeu minha missão de falar sobre cronos e cairós. Cronos é tempo cronológico: uma hora pra mim é a mesma hora para você. Mas, na fila do banheiro, um minuto pra mim será diferente do que é para você. O sentido, o que é percebido, vai depender das suas experiências e do que você está fazendo.

Portal Márcia Piovesan: Como o diagnóstico mexeu com você?
Izabella Camargo – Pensei: ‘Meu Deus, como vivemos iludidos. Vivi na pele o que acabei de pesquisar, sem me dar conta de que o burnout me trouxe até aqui. Fiquei dois meses e quinze dias afastada. Na volta, fui demitida. Fiquei por mais ou menos um ano pensando: ‘Que sacanagem, o mundo está contra mim’. Mas me dei conta que não era pessoal. Saí da cadeira de vítima e fui para a de aprendiz. Conforme meu caso foi ficando público, muitas pessoas me procuravam dizendo que passavam pelo mesmo. Iniciei uma pesquisa para ajudar os outros e a mim também. Hoje, olho para o céu e agradeço por ser um instrumento dessa prevenção. Promovo que ninguém precise passar pelo que passei para se valorizar e também para as pessoas não deixarem suas carreiras na mão de ninguém.

Portal Márcia Piovesan: Tem algum perfil mais comum nas pessoas diagnosticadas com burnout?
Izabella Camargo – O único ponto em comum é o ambiente com assédio e recursos sempre muito inferiores as demandas que são feitas. É o fazer mais com menos. E mais: minhas quatro mil entrevistas me fizeram cravar que quem tem burnout ama o que faz. Também costumam ser pessoas comprometidas, responsáveis, competentes, querem abraçar o mundo, não negam trabalho. Enfim, tudo o que uma empresa quer. Estão errados? Não, desde que você saiba respeitar seus limites e para dizer: ‘Obrigada, mas agora não dá’. Saber dizer não é uma das coisas que ensino na produtividade sustentável.

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Portal Márcia Piovesan: Você foi diagnosticada após se sentir mal ao vivo, não foi?
Izabella Camargo – Sim, dia 14 de agosto de 2018 meu convite chegou. Fazia a previsão do tempo com o (José Roberto) Burnier na Globonews, improvisando já há minutos. Quando fui falar do meu estado, esqueci o nome Curitiba. Imagina. Passaria batido se, com isso, não tivessem vindo reações como enjoo, tontura, boca seca, fraqueza nas pernas. Só faltei desmaiar. Aliás, eu preferiria. Mas segurei a onda. Paralisei por três segundos, retomei o raciocínio e depois ainda fiz o Bom Dia Brasil.

Portal Márcia Piovesan: Mas isso tudo foi de repente?
Izabella Camargo – Antes desse episódio, já estava acumulando problemas no estômago, intestino, de origem hormonal. E não ouvi nenhuma das mensagens. Fui da emissora para o psiquiatra, que já estava marcado. Cheguei sob risco de convulsão. Quase bati o carro três vezes porque quando o farol fechava. Eu, que estava colapsando com todos esses sintomas, fechava o olho. Precisamos respeitar nossos limites para não colocar ninguém em risco. Respeitar os próprios limites não diz respeito só a você, mas também àqueles com quem você convive. Cheguei lá chorando muito, fora de mim. O médico me disse: ‘Você está com burnout.’ Eu respondi: ‘Mas eu amo o que faço.’ Ele falou: ‘Por isso mesmo’. Minha missão de vida hoje é preservar o talento e a saúde das pessoas

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